segunda-feira, 22 de outubro de 2007

o cravo dentro da rosa

Ainda com a roupa de trabalho, com a cara marcada, o cabelo desfrenhado, marca de baba do lado esquerdo da boca, um cigarro na mão direita, os pés descalços no chão gelado e parcialmente limpo. Madalena foi à mesa do almoço - que para elaera como o café da manhã. Quando as meninas a viram levaram um choque. Ela tinha uma espinha gigantesca no seio esquerdo da face. A beleza dela estava arranhada. Recebera ordens da superiora para que desse um jeito naquilo, pois senão nem sentar-se à mesa para comer ela tinha direito.
Dirigiu-se, cambaleando de fome, ao banheiro. Frente ao espelho rodeado por fotos e escritos pseudo filosóficos de batom ela ergueu as duas mão, posicionou os dois indicarores ao lado daquele monstro purulento e fez força dos dois lados. A maldita não queria ser espremida. Colocou um pouco mais de vontade e num lapso de dor a gosma amarelada foi parar no espelho. Escorria misturada com um pouco de sangue. Mas ainda havia um calombinho. Madalena resolveu apertar um pouquinho mais e num jorro de pús transparente veio um cravo gigantesco que há muito tempo vinha se alimentando dos restos gordurosos da moça.
Isso fez ela pensar. Queria ser como esse aracnídeo. Se alimentar o quanto pudesse daquele lugar e de repente sair. Não sair para a morte como ele; sair para a vida fortalecida. Não via a hora. Só não sabia como fazer para conseguir a redenção. Pensaria. Odiava pensar em coisas difíceis, mas resolveu que seria pior dar para o resto da vida lá e em como aguentar os homens do que pensar em como sair daquele lugar nojento e daqueles clientes grotescos.

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