sexta-feira, 26 de outubro de 2007

calmaria eterna

Os dois jovens se beijavam apaixonadamente sem se importar com os milhões de rostos tristes e nomes que lhes olhavam e também não se preocupavam com o fato de que mais alguém poderia aparecer.
Um dia desses, descendo a pé a Rua da Consolação, me deparei com uma imensa cidade. Uma cidade quieta e cheia de paz. Da rua podia se ver dezenas de telhados de pedra. Uns sujos. Outros limpos e conservados. Era o cemitério. Entrei para conhecê-lo e de repente foi de fato como se eu estivesse em uma outra cidade. Ao atravessar o portão da necrópole todo o barulho de carros de multidões... se cala. É mágico. Para muitos é macabro e traz lembranças indesejáveis. Para mim é um lugar cheio de história e de arte.
Cachorros não conseguem ser furtivos. Podem até correr de você quando têm medo – o que não acontece geralmente – ,mas você ainda continuará a vê-los. Gatos são o oposto. São sempre espiões desconfiados e fugídios. Num cemitério nunca se vê cachorros pois são sempre espantados pelos coveiros. Gatos, ao contrário, muitos são vistos no cemitério da Consolação. No entanto, como aparecem, somem de nossoas vistas.
Com raras exceções, os humanos são como os cachorros. E foi justamente alí, ao lado do mausoléo dos Matarazzo que eu vi o casal apaixonado. Quem lê não consegue imaginar o espanto dos dois ao me ver. Me confundiram com um coveiro e se desculparam até não poderem mais. Mas disse-lhes que era apenas um visitante e indaguei o fato de eles estarem justo alí. Eram góticos? Que nada, só queríamos um lugar sussegado para fugirmos um pouco!
Nunca mais os vi lá.nem em lugar algum. Devem estar por aí, no Araça ou em qualquer outro lugar calmo dessa cidade que engole a todos nós.

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