sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

felicidade?

Com um medo mortífero de fazer o tal aborto, Madalena disse que não ficava nem mais um segundo naquela casa de prazeres. Pegou os poucos e pequenos trajes que possuía e foi-se sem rumo para algum lugar onde pudesse ser feliz. Conseguiu que Ubaldinho lhe desse abrigo em seu apartamento novo, presente de seu pai que queria ver longe o filho frouxo. E ela ficou lá. Sem fazer nada por oito meses. Arrumava a casa como recompensa e só. Porque para ele nem a recompensa do sexo ela podia dar. Aos poucos, com o ócio, foi se tornando uma alcoolista de primeira linha. Isso sem contar que seu anfitrião dava inúmeras festas nas quais ela tinha a chance de se esbaldar. Esquecia que estava grávida. Um desses dias, já com 25 semanas de gravidez e sem acompanhamento médico algum, ao sair de uma festa, foi passear pelo Ibirapuera. Em uma mão um cigarro de algo ilícito, na outra uma garrafa de vodka das boas, na boca uma cantoria desafinada e berrada nada constante. De repente, uma dor horrorosa tomou conta de sua cabeça. Nem a anestesia etílica fazia aquela dor passar. Havia chego a hora. Ela se deitou no chão e com um esforço memorável expeliu um menino branquinho, todo sujo de sangue que depois também ficou sujo de terra. No entanto o único barulho que se ouvia era o do vento e do sol que nascia voraz atrás das árvores densas. Ultrapassando sua dor, pegou a criança pelos calcanhares e a segurou de ponta cabeça, deu palmadinhas na sua bunda como os médicos que ela vira em novelas, mas não adiantava mais. A criança que se fosse moleque ela carinhosamente chamaria de Ubaldo nascera morto. Ou morrera logo após nascer, nunca se saberá ao certo o tempo que ela demorou para ver que o que realmente tinha acontecido era um parto. Como uma mãe zelosa, desesperada e embriagada, pegou o único líquido que tinha nas mãos e lavou o ‘’recém-nascido’’ com vodka importada. Rasgou um pedaço da saia que incrivelmente naquele dia era comprida e voltou cambaleante para a casa de seu benfeitor. Não chorava. Não mais conseguia ter reação alguma. Não importava o lugar onde ela estivesse. Madalena nunca conseguiria ser feliz.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

tortura humilhante

Tudo bem. Já que vocês querem saber eu vou dizer a verdade. Não que ela importe muito a essa altura dos acontecimentos, mas direi. Nem que seja somente por diversão; pra relembrar os momentos de pra zer que eu tive que poderiam ter sido melhores – como tudo na vida – . Matei. Matei sim e matarei Lucíola na próxima vida também. Fiz tudo bem devagar. Uma pessoa como eu não podia simplesmente cravar uma faca em seu peito ou dar-lhe um tiro na cabeça. Estudei bastante. Ela me fizera sofrer uma vida inteira. A dela não poderia acabar de repente. Cheguei e começamos a conversar. Ela me ofereceu uma bebida. Tudo com muita polidez como se fosse a primeira vez que eu fosse a sua casa depois de termos nos conhecido na rua. Ela levantou-se para ir ao banheiro e eu fiquei à espreita. Na volta eu a agarrei e lhe dei um soco na cabeça. Só pela inconsciência. Despi a infeliz e a amarrei na cadeira. Comecei então a tortura. Creio que não seja apropriado descrever tudo o que fiz. A autópsia revela tudo mesmo. O pior de tudo é que nem na hora de morrer a morfética me deixou completamente feliz. Torturando-a daquele jeito eu esperava choros histéricos, gritos desesperados de dor e pedidos incessantes para que eu parasse. Mas ela não demonstrou a mínima dor. A maldita vagabunda ainda me pediu uma dose dupla on the rocks e um cigarro. E eu dei. Isso é que é o pior de tudo. Eu dei. Não coloquei gelo, mas dei. Nem bêbada ela grunhiu. Vocês devem estar morrendo de curiosidade para saber que tanto ela me fez. Não direi. Seria humilhante demais. Depois que consegui ficar por cima não me sujeitarei a humilhações.