segunda-feira, 31 de março de 2008

tragédia familiar

''que vergonha, ver meu filho chegando em casa cheio de maquiagem desse jeito. o que seu pai diria se fosse vivo...'' ''meu pai é vivo.'' ''não é!'' ''é sim. e você só fala isso porque ele te trocou por aquela gostosa depois que você ficou aleijada!" ''vai. joga tudo na minha cara. joga que foi culpa minha ele ter deixado a gente vivendo nessa miséria. e você, bonito, podia trabalhar na globo ou em algum lugar assim, mas não, quer ganhar um salário de merda trabalhando naquele teatro ridículo. se maquiando igual uma bicha.'' ''bicha é meu irmão que esqueceu da gente também. voc6e que não me insulte porque eu ainda vou ser grande. mas você não vai viver pra ver. aliás, já devia ter morrido, ao invés de ficar dando trabalho pra mim.'' ''chega!'' ''foi você quem começou sua velha imprestável.'' ''eu disse chega!'' ''da a primeira cuspida depois não aguenta o balde de água gelada? escuta agora. nunca, entendeu? nunca mais fala mal do que eu faço ou de mim. faço demais já em ficar aqui cuidando de você e ajudando nas suas despesas. mais uma vez, mais uma vez que você falar alguma coisa eu vou embora.'' ''filho, eu te amo.'' ''não precisa disso.'' ''mas é verdade.'' ''nem isso eu preciso saber.''

segunda-feira, 17 de março de 2008

cadê os aplausos?

os aplausos estavam cessando em sua vida. não que um dia realmente tivesse sido muito aplaudido, mas mesmo assim era melhor. criança não tem saco pra aplauso, quer sair correndo comprar algodão-doce com a máscara do bob esponja, da cinderela ou do homem-aranha. amílcar não aguentava mais aquele emprego. há muito que já havia se cansado de interpretar o visconde de sabugosa. na verdade fazia apenas um mês, mas já era demais. no entanto não havia outra opção, era a espiga falante e inteligente que pagava a metade do aluguel do pequeno apartamento que dividia com a mãe inválida pensionista do inss. amílcar queria mais, muito mais. queria interpretar jasão, ulisses, édipo, era um aficcionado por tragédias. ou então algum personagem de moliére, shakespeare, algo que fosse grande e arrancaria aplausos esfusiantes dos espectadores. era um bom ator, ou pelo menos se achava um, dizia que a maré não estava boa, mas que com toda certeza melhoraria. afinal ele ainda era novo, tinha chão pela frente, dizia sua mãe.

quinta-feira, 13 de março de 2008

mentira

''já assistiu jules e jim?'' ''não, por quê?'' ''nada. enche meu copo.'' ''mentiroso.'' ''sou mesmo. me apaixonei pela sara.'' ''isso é ótimo, porque eu me apaixonei pela joana.'' ''você também é mentiroso.'' ''não sou não.'' ''por mim pode ficar com ela leandro. pra mim ela não serve mais.'' ''e pode pegar a sara pra você. eu já esqueci a ninfomaníaca.'' ''e eu desprezo a joana.'' ''é. nós dois somos mentirosos.'' ''quem sabe se a gente repetir até o fim da noite nossas mentiras elas não viram realidade.'' ''seria interessante se isso acontecesse.'' ''mas não acontece. eu já tentei.'' ''merda. que que a gente faz então?'' ''correr atrás delas é que a gente não vai.'' ''ou vamos.''

terça-feira, 11 de março de 2008

eu? sádico?

''às vezes você não tem vontade de matar alguém?'' ''todo dia. você por exemplo eu estou com vontade de assassinar jogando óleo pelando.'' ''é assim que você me mataria?'' ''não. só agora que eu tive essa vontade. anteontem eu queria fazer o serviço usando seu canivete branco.'' ''mas será que não é muito pequeno?'' ''pode até ser, mas o serviço seria feito muito meticulosamente.'' entendi. só não entendi porquê quer me matar hoje. na quinta-feira eu lhe daria razão, hoje, no entanto nào consigo visualizar o que fiz de errado.'' nada de errado, é por puro sadismo. você sabe que de vez em quando eu tenho meus rompantes.'' ''sei. e tenho medo que um dia seja de verdade.'' ''nunca vai ser de verdade. eu sou louca. você sabe.'' ''eu não sei de nada. só sei que essa conversa me deixou afim de fazer sexo.'' ''você fala de mim mas é mais sádico que eu.'' ''por que?'' ''a gente falando de assassinato e você fala de sexo. essa parte sado-masoquista sua eu não conhecia.'' ''nem eu.''

quarta-feira, 5 de março de 2008

quase uma despedida

caetano chegou na casa de joana com a arrebatadora notícia. ela não se conformava em como marcelo podia ter feito aquilo. não conseguia imaginar o que se passava pela sua cabeça. duas horas antes, caetano chegara ao apartamento de marcelo. se demorasse um pouco mais a chegar nem precisaria ter chegado. a banheira cheia de água fervente, o victorinox branco - presente de seu pai - na mão trêmula. o primeiro corte no pulso esquerdo. o segundo no pulso direito. o canivete cai no chão. o piso branco começa a ser tingido de um vermelho cereja vital. depois de levar marcelo ao hospital, volta à sua casa para pegar uma roupa e levar uma faxineira. encontra em cima da mesa da sala, ao lado de um maço de cigarros aberto, uma carta. a carta estava endereçada a joana, mas como marcelo sobrevivera, caetano pensou que podia lê-la.'' não, você tem completamente razão. eu não mereço seu sangue, mas você merece o meu. joana, o que eu sintia por você havia chegado a tal ponto que nem se eu me colasse a você eu me sentiria satisfeito. o que eu sentia era simplesmente demais, por isso resolvi colocar um fim nisso tudo e achar outra que eu ame menos. não tente entender. eu não entendo. e como não entendo não consigo escrever muito bem o que é. mas é isso.''

terça-feira, 4 de março de 2008

resposta de despedida

muito pelo contrário meu caro ex amante com o qual passei momentos que nunca poderei esquecer, o papel ficou tão seco que se esfarelou em minhas mãos. tão seco que fez meu nariz sangrar. sangue que estanquei em menos de um segundo, pois uma vez que você não merecendo minhas lágrimas, tampouco merece meu sangue. roubou um tempo da minha vida com falas falsas, fábulas fantásticas e poesias chatas e infinitas. e espero, espero como quem espera um amor que nunca virá, que ache alguém que seja melhor que eu. será difícil, pois se eu não servi é porque há algo de errado com você. e pelo jeito não me conhece como pensei que conhecesse. não guardarei uma ponta de caneta bic de rancor de você. quando vê-lo na mesma calçada que eu, continuarei nela, levantarei as sobrancelhas e lhe darei um sorriso. mas creio que não será possível, pois quem trocará de calçada será você, fraco, covarde. não teve coragem nem de vir até mim e dizer tudo isso na cara.
adeus.
aquela que um dia chamou de sua joana. eu nunca fui sua, nem você meu.

segunda-feira, 3 de março de 2008

carta de despedida

eu não lhe amo mais. por mais de um mês eu tentei evitar jogar essa bomba em território amigo, mas não posso mais levar adiante algo que me causa ânsia e me dá medo. porque eu sinto isso? nem eu sei. aliás, acho que não quero saber. eu fico me perguntando como me levantar do seu lado nas manhãs de domingo, beijar sua pele, passar meus lábios por todo seu corpo, de um prazer que não tinha par em minha vida inteira, começou a ser um martírio. na certa você já sabia, você não é burra. inclusive sua inteligência me deixava excitado. não queria terminar tudo com uma carta ridícula como essa, no entanto sou covarde demais pra ver seus olhos se enxerem de lágrimas enquanto eu daria a notícia inevitável. na verdade, eu realmente espero que seus olhos estejam transbordando e que no fim dessas poucas linhas o papel fique enxarcado. sim, esse é o marcelo que você não conhecia e que certamente não gostaria de ter conhecido. não quero um último beijo, uma última noite de amor, nem sequer um abraço. de você eu qquero somente a distância. pode ser que isso mude com o tempo, mas como lhe conheço sei que guardará rancor para além do túmulo.
tchau,
aquele que um dia chamou de SEU marcelo.