segunda-feira, 17 de março de 2008

cadê os aplausos?

os aplausos estavam cessando em sua vida. não que um dia realmente tivesse sido muito aplaudido, mas mesmo assim era melhor. criança não tem saco pra aplauso, quer sair correndo comprar algodão-doce com a máscara do bob esponja, da cinderela ou do homem-aranha. amílcar não aguentava mais aquele emprego. há muito que já havia se cansado de interpretar o visconde de sabugosa. na verdade fazia apenas um mês, mas já era demais. no entanto não havia outra opção, era a espiga falante e inteligente que pagava a metade do aluguel do pequeno apartamento que dividia com a mãe inválida pensionista do inss. amílcar queria mais, muito mais. queria interpretar jasão, ulisses, édipo, era um aficcionado por tragédias. ou então algum personagem de moliére, shakespeare, algo que fosse grande e arrancaria aplausos esfusiantes dos espectadores. era um bom ator, ou pelo menos se achava um, dizia que a maré não estava boa, mas que com toda certeza melhoraria. afinal ele ainda era novo, tinha chão pela frente, dizia sua mãe.

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