segunda-feira, 19 de outubro de 2009

carne podre

a carne apodrecia lentamente na poltrona. as moscas rodeavam e aos poucos depositavam seus ovos na carne putrefa. o gatinho por sua vez brincava de correr atrás das mosquinhas e afundava sem querer as patinhas na carne podre. e com o tempo o cheiro ia aumentando e chamando mais gatos da vizinhança que vinham ver que carne era aquela. e quando menos se esperava havia animais de todo tipo na sala rodeando a poltrona e começando a comer a carne. primeiro as partes mais salientes como dedos e nariz. depois as partes mais nobres como o pênis e os peitos. os suculentos peitos se mostraram, infelizmente, uma decepção, visto que silicone industrial não é muito agradável ao paladar dos animais. o cheiro da carne, se é que tinha jeito, começou a ficar mais insuportável ainda. o patchuli na mesinha de canto já não mascarava mais o fedor da carne podre. a vizinhança começou a se preocupar. começaram a ligar na casa, a bater na porta, mas nada. ninguém para explicar o cheiro de podridão que vinha de lá. a única saída era a polícia. bateu na porta, ameaçou arrombar, e sem resposta, foi o que fizeram. logo depois do arrombamento, passada a cegueira torpe nauseante causada pelo cheiro, eles puderam ver a cena de horror: um cadáver rodeado de animais e insetos. sem possível identificação certeira com relação ao gênero. o cadaver vivia uma situação nada diferente do que morrera em vida.

Um comentário:

Cíntia Moraes disse...

como eu gosto disso!

mais ácido, ou melhor, fúnebre que nunca!

ascos